quinta-feira, 13 de junho de 2013

Universitária venceu o crime e a pobreza para se tornar um exemplo


Eliane Pinto viu amigos sucumbirem aos problemas da vida em uma comunidade pobre, mas escolheu outros caminhos
Eliane estuda Direito na Faculdade Estácio.  ( Roberto Ramos/DP/D.A Press)
Eliane estuda Direito na Faculdade Estácio.
Há 18 anos, a universitária Eliane Maria de França Pinto chegou com a família para morar na esquecida comunidade Vila Arraes, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. Baia, como é conhecida onde mora, era uma jovem que costumava usar drogas, beber e andar com matadores e traficantes. Levou a vida assim dos 14 aos 19 anos, até perceber que estava deixando de aproveitar as oportunidades e que poderia entrar num caminho sem volta, como viu fazer muitos conhecidos.
Resolveu apostar nela própria. Traçou outros rumos. Hoje, aos 37 anos e mãe de cinco filhos, Eliane é uma liderança comunitária na vila e está terminando o terceiro período do curso de direito. Sonha em ser advogada criminalista e em mudar a realidade dos moradores da sua comunidade. “Agora eu estou no caminho certo”, ressalta Eliane.

De família pobre, ela conta que chegava a pular a janela de casa para participar de bailes funks quando sua mãe não a deixava sair de casa à noite. “Com 14 anos eu tive meu primeiro marido e ele foi assassinado. Depois disso, eu passei a ter uma vida muito sem regras. Andava com gente perigosa e era obrigada a consumir drogas. Os meninos diziam que se a gente não usasse era porque estávamos alí para entragá-los à polícia. Já vi gente ser morta na minha frente e ter o corpo jogado no meio da estrada. Era muita loucura e muita violência. Eu só comecei a mudar quando cheguei para morar na Vila Arraes”, revela a universitária.

Decidida a ter um futuro melhor, abandonou as drogas, a bebida e as más companhias. “Tenho duas colegas que estão acabadas por causa do crack, mas não consegui tirá-las do vício. Resolvi que não queria isso para mim. Então, passei a trabalhar e sempre pensava em voltar a estudar e entrar na faculdade”, lembra Eliane.
No seu caminho de luta, embarcou para o Rio de Janeiro, onde foi trabalhar em casa de família. Com saudades da família, voltou para o Recife. Trabalhou mais uma vez como doméstica e chegou a ouvir de uma das patroas que pobres não poderiam cursar uma faculdade. Mas Eliane sabia que isso era possível. Em 2004, terminou o ensino médio. Há um ano e meio, ingressou na Faculdade Estácio do Recife, no curso de direito.

Eliane quer ser advogada criminalista. “Quero montar meu escritório e ajudar as pessoas, principalmente as da minha comunidade. Não concordo com prisões. Os presídios já estão lotados e não melhoram ninguém em nada”, condena. Enquanto não tem o diploma de curso superior, Eliane vai advogando pelos vizinhos.
Integrante do Grupo Cultural Mulheres da Vila Arraes, a estudante desenvolve um trabalho de assistência e conscientização junto às mulheres e aos jovens da localidade. “Ela conversa com os jovens e os orienta para o caminho do bem. A realidade da nossa vila mudou muito nos últimos anos”, revela Luciana Ferreira, 43.

Eliane e a família na sua casa na Vila Arraes. Foto: Wagner Oliveira
Eliane e a família na sua casa na Vila Arraes. Foto: Wagner Oliveira
Esforço -Para frequentar a faculdade, Eliane enfrenta dificuldades. É com a ajuda da família e da bolsa do estágio que paga a mensalidade do curso. “Estou sem o financiamento e preciso arrumar um emprego para pagar a minha faculdade. Mas não pretendo desistir de jeito nenhum. Sonho em mudar para melhor a vida de todos na Vila Arraes, de onde não penso em me mudar jamais”, confessa.
Nas ruas da comunidade, enquanto caminhava com o Diario, a universitária era cumprimentada pelos moradores. Respondia com sorrisos e apertos de mão. “Ainda temos muito o que conquistar. Quando eu tiver com o meu diploma de curso superior vou poder brigar ainda mais pelas pessoas. Meus colegas da faculdade já dizem que eu sou a “mulher dos direitos humanos” e eu tenho orgulho de ser chamada assim”, encara a universitária.

Wagner Oliveira - Diario de Pernambuco

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