domingo, 2 de junho de 2013

Mulheres sabem mais sobre finanças do que se costuma pensar

NYT
Helaine Olen, jornalista financeira e escritora
Helaine Olen, jornalista financeira e escritora
Às vezes, quando minhas amigas e eu nos sentamos para conversar, a questão do dinheiro sempre aparece. Geralmente, a maioria admite prontamente que não sabe tanto sobre as finanças familiares quanto deveria.
Acho isso interessante, embora não me surpreenda. Afinal de contas, muitos estudos e reportagens reforçam a noção de que mulheres não são tão boas quanto os homens na hora de lidar com o dinheiro.
Contudo, alguns especialistas em finanças pessoais passaram a questionar o senso comum nos últimos tempos, afirmando que as diferenças entre como os homens e as mulheres lidam com dinheiro são exageradas. Além disso, afirmam que é negativo retratar as mulheres como se fossem ingênuas e precisassem de atenção especial.
"Uma parte considerável do setor é simplista e condescendente com as mulheres", afirmou Helaine Olen, jornalista financeira e autora do livro "Pound Foolish: Exposing the Dark Side of the Personal Finance Industry" (Gastadeira: expondo o lado negro das finanças pessoais, em tradução livre).
Segundo Olen, o verdadeiro problema está no fato de que as mulheres geralmente ganham menos e vivem mais que os homens. Além disso, elas tendem a entrar e sair do mercado de trabalho com maior frequência em função da criação dos filhos.
"Suponho que essa visão sobre as mulheres seja uma forma de fugir de problemas que na verdade são sistêmicos" e que precisam ser enfrentados por meio de políticas públicas, afirmou. Olen também afirmou que alguns conselhos dados às mulheres em relação às finanças, tais como evitar as compras, são na melhor das hipóteses inúteis e na pior das hipóteses machistas.
Uma pesquisa realizada em 2011 pela Gallup mostrou que homens gastam em media US$ 11 a mais por dia que mulheres, conforme Olen escreveu em seu livro.
Annamaria Lusardi, professora de economia e contabilidade da Universidade George Washington e diretora acadêmica do Centro de Excelência em Alfabetização Econômica Global, afirmou que a ideia de que "mulheres gastam mais é um mito".
Entretanto, segundo ela, há uma clara diferença de gênero quando se trata da alfabetização financeira, não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo todo.
Lusardi é coautora de um estudo realizado em oito países – Estados Unidos, Japão, Nova Zelândia, Alemanha, Holanda, Suécia, Itália e Rússia – que revelou que o nível de alfabetização geral era baixo. De acordo com o estudo, os americanos tinham dificuldades com as operações básicas, mas nenhum país se destacou pelo conhecimento.
O estudo intitulado "Financial Literacy Around the World: An Overview" (Visão geral sobre a alfabetização econômica mundial) foi publicado em 2011 na revista Journal of Pension Economics and Finance.
Lusardi afirmou que mulheres de todos os países estudados tinham chances menores de responder corretamente a questões sobre alfabetização financeira quando comparadas aos homens, especialmente quando eram utilizados termos técnicos. Quanto mais sofisticada era a questão e mais jargões financeiros eram utilizados, menor era a incidência de respostas corretas entre as mulheres, afirmou a pesquisadora.
Ainda assim, Lusardi afirmou que a conclusão não deveria ser a de que mulheres são mais ignorantes.
Eis um exemplo: "A compra de ações de uma única empresa geralmente proporciona um retorno mais seguro do que uma ação de fundos mútuos". As opções seriam "verdadeiro", "falso", "não sei" ou "não quero responder". (A resposta correta seria "falso".)
Nos Estados Unidos, os homens responderam corretamente 57,1% das vezes, comparados com 46,8% das vezes entre as mulheres. Na Alemanha, ambos os sexos responderam corretamente mais vezes que nos Estados Unidos, mas a diferença entre ambos era similar: 67,6% dos homens e 56,8% das mulheres responderam corretamente.
Contudo, houve um fator interessante: "quando retiramos a opção 'não sei', as mulheres não tinham mais chances de responder incorretamente", afirmou Lusardi. "Portanto, quando eram forçadas a escolher, as mulheres sabiam tanto quanto os homens".
Quando homens e mulheres tiveram que fazer uma autoavaliação de seu conhecimento financeiro, homens costumavam atribuir notas altas a si mesmos – até quando o conhecimento real não correspondia às notas – ao passo que as mulheres tinham a tendência de atribuir notas mais baixas a si mesas.
"As mulheres têm consciência de sua falta de conhecimento", afirmou Lusardi, ao passo que "homens sentem-se menos dispostos a admitir que não sabem".
Manisha Thakor, assessora financeira e diretora da MoneyZen Wealth Management, especializada em ajudar mulheres, concordou que todos têm dificuldades com informações financeiras.
Investir se tornou mais complexo, afirmou, "e a educação formal em ambientes acadêmicos tradicionais não acompanhou essa tendência. Ambos os gêneros se sentem confusos, mas minha experiência profissional indica que mulheres fazem mais perguntas".
Thakor comparou isso ao clichê de que as mulheres costumam pedir informações com mais frequência que homens.
Os homens também eram vítimas da estereotipagem financeira, afirmou, uma vez que a sociedade os pressiona para que compreendam, ou ao menos finjam compreender as tendências financeiras.
"Diria que o jargão típico do sistema financeiro é masculino", afirmou Thakor, referindo-se a termos como "jogar no mercado", ou "dominar o campo". "Parece que estão falando de um jogo", afirmou. Essas analogias também levam mulheres a se sentirem excluídas.
E a noção de que mulheres são mais avessas a risco do que homens? "Para mim, não há evidências convincentes de que mulheres invistam em ativos menos arriscados do que homens", afirmou Lusardi.
Na verdade, Julie Nelson, dona da cadeira de economia da Universidade de Massachusetts, em Boston, revisou 24 artigos que afirmavam que as mulheres tinham menos chances de correr riscos financeiros. Ela descobriu que todos os artigos exageravam diferenças estatísticas relativamente pequenas.
"O estereótipo de que homens correm mais riscos que mulheres é muito forte", afirmou, mas ele não resiste à pesquisa científica. Segundo ela, o comportamento de homens e mulheres em relação aos riscos era parecido na maioria das vezes.
Além disso, conforme Nelson e outros ressaltam, maiores riscos não são uma promessa de melhores retornos.
Em função da diferença de renda entre os gêneros e da expectativa de vida, as mulheres precisam de projeções financeiras diferentes. Todavia, segundo ela, "é desencorajador dizer que precisam de tratamento especial quando se trata de entender as finanças".
Fonte: NYT

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