quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sindicalismo irresponsável na greve da PM e interesses eleitorais tornam pernambucanos reféns da violência


Assembleia da PM, no Palácio do Campos das Princesas
 Por Jamildo Melo, editor do Blog
Já acompanhei greves da PM nos governos Arraes e Jarbas Vasconcelos e em todas não havia o ingrediente deletério das redes sociais, expondo a população mais crédula a boatos a uma velocidade inacreditável. Afinal, são os novos tempos, não há o que fazer, salvo não dar crédito a qualquer um e buscar checar as informações.
No entanto, o que mais chamou a atenção neste movimento da PM foi o quanto a população de Pernambuco é refém de corporações. Ora são os lixeiros, depois são os funcionários do metrô, daqui a pouco são os camelôs do Centro do Recife. Os PMs, por terem o direito de colocar armas na cintura, são uma categoria especial. Dada esta razão, a cautela deveria ser redobrada. Todos sabem como começa, mas não há quem saiba como termina. Por sorte, ao que parece, pode ter terminado bem, com o fim da paralisação.
Passada a fase mais aguda, fica evidente, até para quem não se interessa em tentar entender as causas e não os efeitos, que houve uma tentativa concreta de instrumentalização da tropa.
Havia dois grupos no comando das ações, todos eles em disputa para assumir o comando da Associação dos Cabos e Soldados (ACS), que terá eleições em cerca de 45 dias, depois que a Justiça do Estado determinou a intervenção na entidade, afastou a diretoria antiga e marcou eleições agora em 2014.
Na sua bondade e ingenuidade, o juiz estadual que deu o despacho marcando a data da eleição na ACS não deve ter atinado para que já se estaria vivendo o clima das eleições estaduais e nacionais, gerando chances reais de que corporações, armadas ou não, apostem na estratégia da chantagem como forma de emparedar governos. A PM da Bahia tentou, mas deu errado. O líder do movimento foi preso, perdeu o mandato e teve até um infarto na cadeia. Vamos ver se por aqui a chibata vai funcionar também.
A adesão de cerca de 80% da tropa da PM é fácil de explicar. Havia a insatisfação salarial, o rastilho da pólvora, só faltava o festim para acender…
Os dois principais líderes do movimento paredista da PM são candidatos a presidente da ACS. Um deles é Alberisson Sales, que chegou a concorrer a cargos eletivos em dobradinha com o ex-coronel Meira, candidato a prefeito em Camaragibe. O policial foi um dos autores da ação judicial que provocou a intervenção na ACS.
O outro líder e candidato à ACS é Joel Maurino, conhecido como Joel da Aspra, que é ligado ao deputado estadual Cleiton Collins, do PP. Joel trabalhou no gabinete do deputado estadual.
Adversários na disputa que se avizinha, os dois se juntaram na busca por holofotes, na busca de um espaço ao sol. A prova de que a campanha sindical imperou eram as camisas que os grupos usavam ao subir no palanque, com suas marcas. Joel da Aspra, de preto. Alberrison, de laranja. A portas fechadas, na mesa de negociação, ficaram ainda mais evidentes a desconfiança entre os dois grupos. Mesmo sem terem a legitimidade de terem sido eleitos, sentaram à mesa de negociação.
Qual a razão para que o cargo de presidente da ACS seja tão cobiçado?
A ACS é uma das maiores associações do Estado, com mais de 10 mil sócios e R$ 300 mil de arrecadação por mês. Movimenta mensalmente mais do que prefeituras recebem de FPM. Quem não quer? Em certo sentido, é melhor do que o cargo de deputado estadual.
O presidente ainda ganha um carro bacana para circular e pode ficar afastado do expediente nas ruas. Sim, também não presta contas a ninguém.
Sem querer descredenciar os PMs, o despreparo dos sindicalistas insurgentes ficou evidente quando, na mesa de negociação com o governo do Estado, aceitaram os pontos, mas não foram capazes de conduzir a assembleia com a tropa a bom termo, nessa quarta-feira. O vacilo criou as condições para um dia de terror no Estado. Foi a senha para que vândalos e marginais atuassem livremente.
Neste ponto, entra em campo a figura da tenente-coronel Conceição Antero. Com formação superior e boa retórica, botou os outros sindicalistas no bolso. Ela teve papel fundamental para insuflar a greve, independentemente dos palavrões que o Blog de Jamildo mostrou em vídeo com exclusividade, nessa terça.
Denunciada pelo Ministério Público Militar, por suposto ato de indisciplina, a policial responde a processo e pode perder a farda. A frustração pessoal com a promoção que não veio, em função justamente dos problemas administrativos, podem ajudar a explicar a aposta na esfera sindical, coincidentemente no mesmo momento em que o ex-marido, José Carlos Pereira, detém o comando da Polícia Militar.
Nesta tarde, a policial disse à imprensa que não tem pretensões eleitorais, mas que, se quiserem lançá-la, ela aceita a missão. A quê? Como representante da classe na Câmara dos Deputados. Em qual partido? “Que não faça barganha, que se venda por um voto”. Ah, bom.
Depois, os grevistas ficaram numa encruzilhada, sem saber como sair. Afinal, uma greve da PM não é negócio de amador. A greve saiu do controle dos líderes.
A saída alternativa foi dada pelo governo João Lyra, ao defender a discussão de um plano de cargos IMEDIATAMENTE. Nada pode ser sequer proposto, pois a legislação eleitoral proíbe. Nada pode ser oferecido para 2015, pois a Lei de Responsabilidade Fiscal não permite.
Já não eram desprezíveis as vantagens oferecidas pelo governo João Lyra. Só a inclusão da gratificação de risco de vida aos soldados, na hora em que passam para a reserva, representam um quinto do salário dos praças. Hoje, muitos continuam no serviço, não passam para a reserva para não perder o benefício.
Também já haviam sido aceitos, sem embromação, a discussão da mudança de critérios para promoções e a melhoria do atendimento médico hospitalar pelo interior, em especial. O aumento do vale alimentação, apesar de pequeno, também  é vedado no ano eleitoral. Embora seja verdade que a procuradoria geral do Estado, quando quer, prove que água é fogo, com seus pareceres, a lei eleitoral proíbe até que o governante prometa.
Assim, resta a conclusão de que ou os sindicalistas insurgentes perderam o timming ou agiram de caso pensado, neste caso. Repito o que escrevi ontem aqui.
Abre aspas. Também não se pode descartar ainda a possibilidade, em ano de eleição, de que o movimento dos policiais esteja se aproveitando do temor de arranhar a imagem do atual pré-candidato do PSB à Presidência, para conquistar suas reivindicações. Porque a ilação é plausível? Se a concessão de aumento salarial à classe é proibido pela lei eleitoral em um prazo inferior a seis meses antes das eleições, não haveria o que discutir. Se os sindicatos sabem disso e vão bater lata na porta do Palácio do Campos das Princesas, quem ganha com isso? A quem interessa a instalação do pânico. Fecha aspas.
Para lançar e mobilizar uma categoria inteira, é preciso ter suporte. Se eles não estão vindo da ACS, sob intervenção judicial, cabe o questionamento. Estão vindo de onde? Quem tem interesse em patrocinar a desestabilização, apresentando-se como salvadores da pátria? Quem ganha com a aposta no medo? Vamos ver se aparecem em algum guia eleitoral, como prova de que o Pacto pela Vida não era um trunfo como Eduardo Campos apregoa no plano nacional.
fonte :Blog Jamildo Melo

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